Ainda me lembro do momento em que li pela primeira vez sobre a velha mala marrom - no artigo em um jornal da comunidade. Meus joelhos balançaram. Meu coração bateu. Eu soube imediatamente que essa era uma história incrível.
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Karen Levine |
Mas quando escrevi o primeiro livro, nunca imaginei que tantas pessoas em tantos países gostariam de lê-lo. Nenhum de nós - nem George, nem Fumiko – tínhamos a menor ideia de que a resposta para essa história seria tão grande e que nossas vidas seriam mudadas por ela.
A primeira vez que me interessei pelo Holocausto, eu estava na escola primária. Todo domingo depois de uma manhã comum na escola judaica, meu pai me levava a uma delicatessen em Wellington para um passeio. No balcão, a Sra. Kardish estava sempre lá para nos servir, em seu braço, na parte interna do antebraço, havia um número azul. Não me lembro de como me disseram, mas eu aprendi que o número foi queimado na pele dela quando estava em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Nunca lhe perguntei diretamente sobre isso – eu era muito tímida – mas fiquei fascinada.
Então, quando eu tinha treze anos, fui com a minha família para a Europa e um dos lugares que visitamos foi o campo de concentração de Buchenwald, um lugar onde milhares de judeus morreram. Nunca vou esquecer as pilhas de cabelos, óculos, muletas e malas que vi no museu de lá. Desde o momento em que voltei de viagem eu estava obcecada pela história do Holocausto e comecei a ler tudo sobre o assunto. E ainda continuo lendo.
Eu queria entender porque a permissão de tanta maldade. Queria compreender como os sobreviventes conseguiram seguir em frente depois de viver tanto horror. Eu sempre senti isso, pois sou judia e pensava que poderia ter acontecido comigo, se eu tivesse nascido em um lugar e numa época diferente – que poderia ter acontecido com meus pais ou com a minha irmã. É uma sensação muito estranha.
O Holocausto me deixou com raiva e muito triste. Seis milhões de judeus assassinados. Milhares de pessoas como – ciganos, deficientes, pessoas de cor, homossexuais, comunistas, eslavos. Eu queria fazer algo. Pensei que, se ao menos as pessoas soubessem o que tinha acontecido, teria a certeza que isso nunca mais aconteceria de novo. Então, do meu jeito, comecei a contar histórias.
Na escola, escrevia ensaios sobre isso. Eu continuava lendo. Fui trabalhar na CBC em 1979 onde fazia programas de rádio sobre o assunto. Foi, em dezembro de 2000, que o meu coração bateu exultante, quando li sobre a mala e as histórias de Hana, Fumiko e George. Era uma história tão incomum, com uma estranha combinação de esperança e devastação. Três gerações. Um mistério. Armadilhas, contratempos, coincidências e pequenos milagres. A história de um mundo passado, ligado diretamente ao presente.
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Karen Levine
George Brady
Fumiko Ishioka |
Naquela mesma noite procurei George na lista telefônica e liguei para ele. Ele disse que ficaria feliz em falar comigo. Também me disse que Fumiko estaria chegando ao Canadá. Seria a primeira vez que eles iriam se encontrar. Tive sorte de passar um tempo com cada um deles. Fiz um documentário para a rádio chamado “A mala de Hana”. Seis meses depois, comecei a escrever o livro.
Passei muito tempo com George, procurando buscar em suas memórias, o que ele lembrava sobre sua irmã, para que pudéssemos descobrir o máximo possível sobre ela. Ele escreveu para várias pessoas ao redor do mundo, que havia conhecido Hana, quando era apenas uma criança, para que eu pudesse preencher as peças da história, na qual ele não estava presente. Fumiko e eu enviávamos emails para todos, a fim de buscar mais informações. George e eu compartilhávamos sua incrível coleção de fotografias e artefatos. Logo depois veio “A mala de Hana” – o livro nasceu. A resposta foi imediata.
Algumas semanas depois que o livro foi publicado, recebi minha primeira carta de um leitor, um garoto chamado Lopez Junior. Foi emocionante! Seu professor disse-me que o menino tinha tido momentos difíceis em sua vida e alguns problemas na escola, mas ele carregava a mala de Hana onde quer que ele fosse. Eu fui falar com sua turma.
E então em pouco tempo, de uma pessoa tímida que ficava atrás das cenas, levantei-me para falar em grandes auditórios e teatros por todo o mundo. Com certeza, foi emocionante. Porém assustador. De uma pessoa caseira, passei a ser uma viajante. Passava muito tempo nas escolas e pela primeira vez na minha vida eu adorava estar com as crianças. Seu senso natural de justiça, sua alegria, sua bravura e espontaneidade me deram – e me dão - solavancos de esperanças.
Ficamos atordoados com a enorme quantidade de resposta a mala de Hana, desde crianças, pais, professores e grupos comunitários no Canadá, e em todo o mundo. As crianças respondem de formas diferentes – em relação às fotografias, a verdade sobre a história, ao fato de George aprender um ofício aos 14 anos e a imagem das duas crianças Brady, que estão escrevendo sua raiva sobre toda a injustiça em torno delas mesmas e enterrando em uma garrafa de vidro, sob os balanços. Elas puderam relacionar a história de Hana a situações que se passam em suas próprias escolas, onde há um garoto gordo – uma criança negra – um garoto homossexual – uma criança deficiente – que são hostilizados simplesmente pelo que são. Elas dizem que da próxima vez não vão ficar paradas, quando isso acontecer. Elas estão chocadas pela ideia de saber que a intolerância e o racismo podem significar crianças perderem seus pais ou um irmão com consequências mortais. Elas adoram a ideia, de saber que as crianças no Japão, procuram fazer algo na construção de um mundo mais justo e pacífico – a ideia de que, as crianças podem fazer a diferença.
Estudantes de uma pequena comunidade em Newfoundland fizeram uma colcha de retalhos da história e tem compartilhado com toda a cidade. Alunos de uma escola em Ontário construíram cinco malas, que agora viajam com um conjunto de escolas em toda a província. Uma representa a história de Hana. Quatro representam as histórias de outros genocídios - Ruanda, Armênia, Sudão. Uma é deixada vazia, para que os alunos, em cada nova escola possam criar sua própria representação das consequências da guerra e do ódio.
Em Ottawa, uma sala de aula cheia de crianças refugiadas leram a mala de Hana e assistiram a um filme chamado Clipes de Papel. Elas foram inspiradas por essa história e por seu notável professor – que iniciou o projeto ruandês, chamado “Penas de Ruanda” – trata-se de uma pena para cada pessoa morta no genocídio de Ruanda. Eles se reúnem em todo o mundo.
E no Brasil, os estudantes e sua notável professora criaram um blog que está sendo visto em todo o mundo.
Quando visitamos as escolas, as crianças fazem perguntas difíceis. Elas são muito verdadeiras sobre o que querem saber: Por que os nazistas odeiam os judeus? Como é que as pessoas realmente morreram nas câmaras de gás? Se você pudesse encontrar Hana agora, o que você diria a ela? Para George - doeu ter o número tatuado em seu braço? Como você se sentiu quando descobriu que sua irmã havia sido envenenada por gás? Como você lida com a sua raiva? Questões que nos levam a refletir.
A história da mala de Hana continua a nos trazer grandes surpresas. Em uma viagem à Europa, alguns anos depois que o livro saiu, George e Fumiko descobriram que a mala inicial foi destruída em um incêndio, em Birmingham, Inglaterra, em 1984. A mala de Hana era parte da primeira exposição fora de artefatos do Holocausto de Auschwitz. A polícia de Birmingham informou que o fogo provavelmente foi provocado por neonazistas, pessoas que ainda simpatizam com Hitler e querem que o mundo acredite que o Holocausto nunca aconteceu. O museu de Auschwitz criou uma réplica muito cuidadosa da mala. Uma cópia - a partir de uma fotografia. Foi essa réplica que Fumiko e o Pequenas Asas receberam em Tóquio. Essa descoberta foi um grande choque. Mas, no final, somos gratos por sua criação. Se Auschwitz não tivesse criado a réplica, Fumiko nunca teria procurado por Hana, ela nunca teria encontrado George e nós nunca saberíamos suas histórias. Mais uma vez, a história de Hana sobreviveu contra todas as probabilidades.
A mala e uma exposição sobre Hana viajam constantemente por todo o Japão, o livro já foi publicado em mais de 50 países por todo o mundo. É uma peça, uma reportagem para a TV, um documentário.
Uma criança - Hana Brady - nunca saberá o que ela fez, e seu grande impacto. Mas, finalmente, Hana Brady teve seu sonho realizado, de se tornar uma professora.
Espero que vocês nunca se esqueçam de Hana, George e Fumiko e as lições que suas histórias nos trazem. É muito importante saber sobre o passado. Todos nós precisamos lutar – em nossos próprios caminhos, em nossos próprios cantos do mundo – contra o racismo e os estereótipos – para um futuro mais justo e tolerante.
Tudo de bom para todos vocês.
E continue lendo!
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I still remember the moment when I first read about the old brown suitcase – in an article in a community newspaper. My knees wobbled. My heart thumped. I knew right away that this was an amazing story.
But when I first wrote the book I never dreamed that so many people in so many countries would want to read it. None of us – not George, not Fumiko – and certainly not me – had any idea that the response to the story would be so enormous, and all our lives so changed by it.
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Karen Levine |
I first became interested in the Holocaust when I was in elementary school. Every Sunday morning, after a grumbly morning at Jewish School, my Dad would take me a delicatessen on Wellington for a treat. At the counter, Mrs. Kardish was always there to serve us and on her arm, on the inside of her forearm, was a blue number. I don’t remember how I was told, but I learned that the number was burned into her when she was in a concentration camp during the Second World War. I never asked her directly about it – I was too shy – but I was fascinated.
Then, when I was thirteen, my family went to Europe and one of the places we visited was the Buchenwald concentration camp, a place where tens of thousands of Jews died. I’ll never forget the piles of shoes, the piles of hair, of glasses and leg braces, and the suitcases I saw in the museum there. From the moment I got back from that trip I was obsessed with the history of the Holocaust and read everything I could get my hands on. And I’m still reading.
I wanted to try to understand how such evil could have been allowed to happen. I wanted to understand how survivors could walk straight after living through the horror. And I always felt that because I am Jewish that if I’d been born in a different place, at a different time – it could have been me, or my parents, or my sister. That’s a very strange feeling.
The Holocaust made me angry and it made me sad. Six million Jews murdered. Millions of other people to – Gypsies, disabled people, people of colour, gay people, Communists, Slavs. I wanted to do something. I thought that if only people knew what had happened, everyone would make sure it never happened again. So, in my own way, I started to tell stories.
In school, I wrote essays about it. And I kept reading. I went to work for the CBC in 1979 and made radio programs about it. Then in December 2000, I had that wobbly heart-thumping moment when I learned about the suitcase, and the stories of Hana and Fumiko and George. It was such an unusual story, such a strange combination of hope and devastation. Three continents. Three generations. A mystery. Pitfalls, setbacks, coincidences and small miracles. A story from a long ago world that is directly connected to the present.
That very night I looked George up in the phone book, and called him. He said he’d be happy to talk to me. And he told me Fumiko was about to arrive in Canada. It was the first time they were going to meet. I was lucky to spend time with each of them. I made a radio documentary called “Hana’s Suitcase”. About six months later, I started to write the book.
I spent a lot of time with George, picking his brain, trying to dredge up any little memories he had of his sister, so that we could tell people as much as possible about her. He wrote to people around the world who had known Hana as a child, so I could fill in parts of the story where George was not present. Fumiko and I emailed back and forth getting her end of things straight. And George and I went through his amazing collection of photographs and artifacts. Soon after, Hana’s Suitcase – the book – was born. The response was instant.
A few weeks after the book was published, I received my very first letter from a reader, a boy named Junior Lopez. It was thrilling! His teacher told me he’d had some rough times in his life, and some troubles at school, but he carried Hana’s Suitcase with him wherever he went. I went to talk to his class.
And then, in short order, I went from being a pretty shy behind-the scenes person to having to stand up and speak in huge auditoriums and theatres all over the world. It was exciting, for sure. But it was really scary! I went from being a homebody to a traveller. I spent a lot of time in schools for the first time in my life and I loved being with kids. Their natural sense of justice, their joy, their bravery and spontaneity gave me – give me - jolts of hope.
We have all been stunned by the huge response to Hana’s Suitcase, from children, parents, teachers, community groups in Canada and around the world. Kids respond to many different things – to the photographs, to the truth of the story, to Hana as a candy sneaker, George learning a trade at 14, to the image of the two Brady children writing out their anger at all the injustice and unfairness around them and burying it in a glass bottle under the swings. They can connect the story of Hana to things that go on in their own schoolyards, where a fat kid – a brown kid – a gay kid – a disabled kid – may be taunted simply for who they are. They tell us that maybe next time, they won’t stand by and watch it happen. They are shocked by the idea that intolerance and racism can mean that children lose their parents, or a sibling, that it has deadly consequences. And they love the notion that kids in Japan are trying to do something to build a more just and peaceful world – the idea that kids can make a difference.
Students in a small community in Newfoundland made a quilt of the story and have shared it with the whole town. Students at a school in Ontario constructed 5 suitcases which now travel as a set to schools across the province. One represents Hana’s story. Four represent the stories of other genocides – Rwanda, Armenia, Sudan. One is left empty, so that students in each new school can create their own representation of the consequences of war and hatred.
In Ottawa, a classroom full of refugee kids read Hana’s Suitcase and saw the movie Paper Clips. They were inspired – by those stories and a remarkable teacher – to start the Rwandan Feather Project – one feather for each person killed in the Rwandan genocide. They’ve gathered them from all over the world.
And in Brazil, students and their remarkable teacher have created a blog that it is being shred across the globe.
When we visit schools, kids ask tough questions. They are very blunt about what they want to know: Why did the Nazis hate the Jews? How did people actually die in gas chambers? If you could meet Hana now what would you say to her? For George - Did it hurt to have the number tattooed on your arm? How did you feel when you found out your sister had been gassed? How do you deal with your rage? Those questions keep us thinking.
The story of Hana’s Suitcase continues to hold surprises for us. On a trip to Europe, a few years after the book came out, George and Fumiko learned that the original suitcase was in fact destroyed in a fire in Birmingham, England in 1984. Hana’s suitcase was part of the very first exhibition outside of Holocaust artifacts from Auschwitz. The Birmingham police say that the fire was probably set on purpose by neo Nazis, people who still sympathize with Hitler and want the world to believe that the Holocaust never happened. The museum at Auschwitz created a very careful replica of the suitcase. – a copy – from a photograph. It was a replica that Fumiko and the Small Wings received in Tokyo. This discovery was quite a shock. But in the end, we are so grateful that replica was created. Had Auschwitz not created the replica, Fumiko would never have searched for Hana, she would never have found George, and we would never know their stories. Once again, Hana’s story has survived against all odds.
The suitcase and an exhibition about Hana travel constantly all over Japan, and the book is published in over 50 countries around the world. It’s a play, a TV documentary, a feature film documenta
One child – Hana Brady – will never know what she has done, what an impact she has had. But finally Hana Brady has realized her dream of becoming a teacher.
I hope you’ll never forget Hana, George and Fumiko, and the lessons their story holds. It’s very important to know about the past. And we all need to struggle – in our own ways, in our own corners of the world – against racism and stereotyping - and for a more just and tolerant future.
All the best to all of you.
And keep reading!